Iremos entrar no universo das regências. Elas podem ser nominais ou verbais.
A regência nominal estuda os casos em que um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) exige um outro termo que lhe complete o sentido. Normalmente, o complemento de um nome vem iniciado por uma preposição.
O fato de um nome ou um verbo exigir determinada preposição ou não exigir preposição prende-se ao uso que os falantes do idioma vão fazendo da língua. Assim, com o passar do tempo, determinadas formas vão sendo incorporadas pela língua culta, isto é, pela língua gramaticalmente correta, enquanto outras formas consideradas incorretas vão sendo rejeitadas, embora continuem, em sua maioria, a ser aceitas pela língua popular e usadas por ela.
No que se refere à regência nominal, quase não há diferença de usos, se compararmos a língua culta com a língua popular.
A regência verbal estuda a relação existente entre o verbo e seu complemento (= objeto).
Exemplo: Todas as crianças gostam de sorvete.
Dizemos, nesse caso, que o verbo gostar rege (= exige) um objeto indireto.
Exemplo: O garoto ganhou um brinquedo.
Dizemos, nesse exemplo, que o verbo ganhar rege o objeto direto.
Como é impraticável e desnecessário estudar a regência de todos os verbos que existem em português, vamo-nos limitar somente ao estudo daqueles que, em razão de alguma dificuldade que possam oferecer, são mais solicitados nos exames vestibulares em geral.
Vamos agora estudar alguns verbos que nos interessam:
I. Verbo aspirar
Esse verbo tem duas regências e dois sentidos:
Aspirar no sentido de respirar, inalar é verbo transitivo direto
Exemplo: A menina aspirou o gás tóxico.
Nesse sentido, aspirar admite voz passiva e a substituição do objeto por O.
Aspirar no sentido de pretender, desejar é verbo transitivo indireto
Exemplo: O rapaz aspirava a uma vitória.
Nesse sentido aspirar não aceita voz passiva e também não admite os pronomes LHE e LHES como objeto.
II. Verbo assistir
Esse verbo tem três regências e quatro sentidos:
Assistir no sentido de estar presente é verbo transitivo indireto
Exemplo: Uma multidão assistiu ao jogo.
Observações:
Assistir no sentido de socorrer, prestar assistência é verbo transitivo direto
Exemplo: O médico assistiu o doente.
Nesse caso, o verbo aceita voz passiva.
Assistir no sentido de caber, pertencer é verbo transitivo indireto
Exemplo: O direito de protestar assiste a todo jovem.
Nesse sentido, o verbo assistir admite LHE e LHES como objeto.
Assistir no sentido de morar, residir é verbo intransitivo, embora deva ser construído com adjunto adverbial de lugar iniciado pela preposição EM
Exemplo: Durante dois anos ele assistiu em Santos.
III. Verbo agradar
Esse verbo tem duas regências e dois sentidos:
Agradar no sentido de contentar, satisfazer é verbo transitivo indireto
Exemplo: Sua atitude não agradou a nosso pai.
Agradar no sentido de acariciar, fazer carinho é verbo transitivo direto
Exemplo: A criança agradava o pequeno animal.
IV. Verbo visar
Esse verbo tem duas regências e três sentidos:
Visar no sentido de pretender, ter em vista é verbo transitivo indireto
Exemplo: Você sempre visou a este cargo.
Observação: nesse sentido, o verbo visar não admite LHE, LHES como objeto.
Visar no sentido de pôr o visto, assinar é verbo transitivo direto
Exemplo: O responsável visou o passaporte do rapaz.
Nesse caso, o verbo admite voz passiva.
Visar no sentido de mirar, dirigir a pontaria é verbo transitivo direto
Exemplo: O atirador visava o coração do indefeso animal.
Nesse caso também aceita voz passiva.
V. Verbo querer
Esse verbo tem duas regências e dois sentidos:
Querer no sentido de desejar tomar posse é verbo transitivo direto
Exemplo: O garoto queria o prêmio.
Querer no sentido de gostar, amar, querer bem é verbo transitivo indireto
Exemplo: Ela sempre quis aos meus pais.
VI. Verbo chamar
Esse verbo tem as seguintes regências:
Chamar no sentido de pedir para vir é verbo transitivo direto
Exemplo: Foi então que chamei os amigos.
Chamar no sentido de denominar, apelidar pode ser construído de quatro maneiras diferentes
Exemplo:
VII. Verbo custar
Custar no sentido de ser custoso, ser difícil só pode ser usado na 3ª pessoa do singular e com objeto indireto
Exemplo: Custou-me acreditar na história.
VIII. Verbos obedecer e desobedecer
Esses dois verbos são sempre transitivos indiretos.
Exemplo: Todos obedeceram ao chamado.
Observação: esses dois verbos, embora sejam transitivos indiretos, podem, corretamente, ser colocados na voz passiva.
IX. Verbos pagar e perdoar
Esses dois verbos mudam suas regências dependendo do objeto que lhes completa o sentido.
Pagar e perdoar exigem objeto indireto iniciado pela preposição A quando o objeto é gente, pessoa
Exemplo: Eu já paguei ao sapateiro.
Observação: para esses dois verbos pode ocorrer, simultaneamente, um objeto direto e um indireto.
Exemplo: Eu paguei os ingressos ao rapaz.
Pagar e perdoar exigem objeto direto quando o objeto é coisa e não gente
Exemplo: Todos já pagaram os próprios pecados.
X. Verbo preferir
Esse verbo é transitivo direto e indireto.
Esquematicamente: preferir (alguma coisa) (a outra)
Exemplo: Nós preferimos o futebol ao vôlei.
Observação: esse verbo não admite expressões de reforço do tipo mais que, muito mais, mil vezes etc.
XI. Verbos simpatizar e antipatizar
Esses dois verbos são transitivos indiretos.
Exemplo: Eu simpatizei com sua amiga.
Observação: esses dois verbos não são pronominais.
XII. Verbos esquecer e lembrar
Os dois verbos são transitivos indiretos.
Exemplo: Eu me esqueci da data.
Esquecer e lembrar são verbos transitivos diretos quando não são acompanhados de pronome oblíquo.
Exemplo: Todos lembraram o fato.
Há uma outra construção menos usada atualmente, mas também correta.
Exemplo: Esqueceu-me o material.
XIII. Verbos informar, avisar e prevenir
Esses verbos admitem as seguintes construções:
a) Informar / avisar / prevenir (alguma coisa) (a alguém)
Exemplo: O guarda informou o fato aos motoristas.
b) Informar / avisar / prevenir (alguém) (de alguma coisa / ou sobre alguma coisa)
Exemplo: O guarda informou os jovens do problema.
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